O Caminho de Nietzsche

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05 August 2012, Serra da Arrábida. Photograph: Pierre Guibert.

Para grandes almas, a terra ainda está disponível, mesmo actualmente. Ainda há muitos lugares vagos para os que se isolam, a sós ou a dois, e em volta dos quais paira o aroma dos mares calmos. Para grandes almas, ainda é possível uma vida livre.
— Friedrich Nietzsche
, Assim falava Zaratustra

É próprio da filosofia pensar-se a si mesma, interrogar-se acerca de si própria. A vida da filosofia, a sua vitalidade, mostra-se num movimento potencialmente infinito de interrogação e espanto a seu próprio respeito e num anseio pela duração desse movimento. Para Nietzsche, filósofo que inspirou Marta Wengorovius e o projecto A grande saúde, o pensamento é esse movimento de velocidade e duração indetermináveis que requer leveza e lentidão. Lamentando a sua época que é, em parte, ainda a nossa, Nietzsche escreveu contra a pressa típica do homem moderno, vendo nela o sintoma de uma doença, a incapacidade de esperar. A celeridade e a urgência de respostas impedem a compreensão do pensamento como um repouso activo e como o exercício de uma espera. A filosofia, pelo contrário, é um repouso que não é descanso, é movimento e preparação para receber os pensamentos os quais, escreveu Nietzsche, “chegam quando querem e não quando eu quero”.

A antiga vita contemplativa, que Nietzsche definiu como um “passear com ideias e com amigos”, consistia neste tipo de relação com o pensamento. E foi sobre isso que Marta Wengorovius se pôs, também ela, a pensar. Há já muito que o seu trabalho é atravessado por exercícios de espera e recolhimento, corporal e espiritual, que se articulam com uma reflexão sobre a acção e a actividade. Nos desenhos da presente exposição, esse exercício aparece intensificado pela consideração do conceito nietzschiano de “grande saúde” e que o filósofo definiu como “algo que não apenas se possui, mas se adquire e tem de se adquirir incessantemente, porque também se arrisca, tem de se arriscar”. Tal como o pensamento, a grande saúde nunca acaba. Ela solicita uma disponibilidade que tem a forma de um compromisso a que Nietzsche chamou a tarefa ou o destino do filósofo. E tal como o pensamento, a grande saúde implica o risco inerente a todo o sair de si próprio, do que se conhece, da segurança do que se sabe, e que é o risco de se perder. As “instruções de uso” de cada desenho são, neste contexto, indicações com vista a exercitar uma desaprendizagem com vista alargar a nossa disponibilidade em relação ao que nos rodeia e suscitar, de algum modo, qualquer coisa da ordem da “grande saúde” do corpo e do espírito. Sentar, comer, dançar, parar, nadar surgem, ali, como possibilidades de intensificação da atenção, da imaginação e da concentração, e experiências que propõem uma descoberta de si através de um distanciamento, de um desvio.

Marta Wengorovius dirige-se, assim, a um “tu”, que está pressuposto (esteve-o sempre) em cada um dos seus trabalhos. Nos desenhos, o imperativo das “instruções” dirige-se a quem quer que os venha ver, mas os desenhos evocam ainda um diálogo contínuo com interlocutores determinados. Em particular, outros artistas são explicitamente nomeados, mas também parentes e antepassados da artista que alargam o tempo do diálogo a todos os que já morreram. Chamando pelo passado, o presente chama, porém, também, pelo futuro nos trabalhos desta artista. Nas performances que realiza, Marta Wengorovius convoca habitualmente os participantes um a um, promovendo o encontro de vários “tu” numa acção comum em que uma proto-comunidade é indício de futuro. Também no projecto que agora leva a cabo, a exposição dos desenhos no espaço do Museu da Electricidade será complementada por uma acção comum na Serra da Arrábida, onde os participantes estão convocados para o que a artista designou como o Caminho de Nietzsche. Inspirando-se na ideia de caminhar com ideias e amigos, a artista propõe o suscitar da disposição vagarosa, do silêncio e da partilha que, para Nietzsche, eram condições de possibilidade do pensar. Estabelecido um percurso na serra, um grupo de pessoas será convidado a percorrê-lo e a exercitar, em movimento, a espera e a demora. A leitura e a escuta de excertos de textos do filósofo quebrará pontualmente o silêncio meditativo, transformando também a paisagem interior dos viandantes, tirando-os do seu isolamento e devolvendo-os, depois, novamente a si próprios e aos pensamentos que porventura queiram chegar. O recolhimento e a partilha serão ainda exercitados durante a breve estadia no Convento da Arrábida que precederá a caminhada na serra. O espaço do convento converter-se-á, assim, naquilo que Nietzsche descreveu como uma “construção e localização que exprimem o carácter sublime da reflexão e do afastamento” e onde é possível “passear dentro de nós”. No cimo da serra e de frente para a imensidão do mar, será proposta a experiência de um “lugar silencioso e amplo, muito alargado para a meditação, onde não chegue o barulho dos carros ou dos pregoeiros e onde um decoro refinado recusasse, até aos padres, a oração em voz alta”.

Sendo um nome para a filosofia, a “grande saúde” é também um nome para a liberdade. Nietzsche concebeu-a como uma contínua actividade de distanciamento e contemplação, considerando-a um exercício da nobreza ou excelência do humano. Numa carta ao seu amigo Köselitz, dá exemplos da manifestação dessa excelência: “Excelente é o andar vagaroso e também o olhar vagaroso. Dificilmente nos maravilhamos. Não há assim tantas coisas com valor; e estas vêm por si mesmas e querem-nos. Excelente é afastarmo-nos das pequenas honrarias e desconfiarmos daquele que louva com facilidade. Excelente é a dúvida em relação à possibilidade de partilhar o coração; a solidão, não escolhida, mas solidão como se nos fosse dada; a convicção de que se tem deveres apenas para o seu semelhante e que face aos outros nos comportamos movidos pela estima…” Nascido do espírito da filosofia de Nietzsche, o presente projecto de Marta Wengorovius procura responder ao desafio de nobilitação do humano lançado pelo filósofo. Na convicção de que, para essa nobilitação ou grandeza, “a terra ainda está disponível, mesmo actualmente”.

Maria João Mayer Branco
Lisboa, Maio 2012

The earth is still free for great souls, even today. There are still many empty places for the lonesome and the twosome, surrounded by the fragrance of silent seas. A free life is still possible for great souls.
— Friedrich Nietzsche, Thus Spoke Zarathustra

Philosophy tends to think about itself, to wonder about itself. Philosophy’s life, its vitality, is shown in its potentially endless movement of questioning itself and wondering about itself and in its longing for the continuance of that same movement.

For Nietzsche, the philosopher who inspired Marta Wengorovius and her project The Great Health, thought is a movement of indeterminable speed and duration, which demands suppleness and slowness. Regretting his time  in which, in part, we still live, Nietzsche wrote against modernity’s typical haste, describing it as the symptom of a sickness, the inability to wait. The disease is manifest in the rush for urgent answers that keeps us from understanding thought as an active repose, the practice of waiting. Understood as a form of health, philosophy, on the contrary, implies a repose that is not a rest but a movement and a preparation for receiving thoughts which, in Nietzsche’s words, come when they want, not when I want.

The ancient vita contemplativa, described by Nietzsche as taking a walk with ideas and friends, was based on precisely this kind of relationship with thought. And that, too, became the subject of Marta Wengorovius’ thoughts. Her work has long been punctuated by exercises of wait and physical and spiritual seclusion, combined with reflections on action and activity. In the drawings featured in the present exhibition, that approach is intensified by taking into consideration the Nietzschean concept of great health, which indicates the continuous movement of approaching and distancing form oneself whereby passivity and activity are never definitely established. The great health, so Nietzsche wrote, is something that one doesn’t only possesses, but also acquires continually and must acquire because one gives it up again and again, and must give it up. Just like thought, the great health knows no end. It demands commitment, something Nietzsche described as the philosopher’s task or fate. And, again just like thought, the great health implies the risk underlying every relinquishing of oneself, of what one knows, of the safety of what is known, that is to say, the risk of becoming lost. In this context, the ‘instructions of use’ in each of Wengorovius’ drawings are thus instructions towards the practice of unlearning. What is at stake is a withdrawal that widens our receptivity to what is around us and somehow brings about something like the great health in body and mind. Sitting, eating, dancing, lingering or swimming appear as means to intensify attention, imagination and concentration, experiences that allow one’s self-discovery via a distancing, a deviation.

In this way, Marta Wengorovius adresses a ‘you’ that is (it always has been) implied in each one of her works. The instructions accompanying the drawings are generically directed to their viewers, but the drawings also convey a continuous dialogue with determined interlocutors. For instance, other artists are explicitly named, but there are also relatives and ancestors of the artist, thus potentially bringing all the dead into the dialogue. While invoking the past, however, the present also invokes the future in this artist’s works. In her performances, Marta Wengorovius usually calls the participants one by one, thus inciting a meeting of several ‘you’ in a collective action, where these proto-communities are a sign of future. In the current project, the exhibition of drawings at the Electricity Museum will also be complemented with a collective action at the Arrábida Ridge. There, the participants will take part in what the artist called Nietzsche’s Path. Drawing inspiration from the concept of taking a walk with ideas and friends, the artist aims at generating the leisurely mood, the silence and the sharing of experiences, which were, in Nietzsche’s mind, the basic conditions for thought. A group of persons is invited to follow a predetermined itinerary on the ridge, putting wait and lingering into practice while in motion. Readings of extracts from the philosopher’s writings will occasionally break the meditative silence, altering the wanderers’ inner space, taking them out of their isolation and then returning them to themselves and to whatever thoughts may want to come. Withdrawal and sharing will be further exercised during a brief stay at the Arrábida Convent, which will precede the walk on the ridge. That building will then become one of what Nietzsche has described as buildings and sites that give expression to the sublimity of thought and of being apart, in which it is possible to take walks in us. On top of the ridge and facing the immense sea, participants will share the experience of a quiet and wide, expansive spaces for reflection where no shouts or noise from carriage can penetrate and where refined manners would prohibit even priests from praying aloud.

Besides being a name for philosophy, the great health is also a name for freedom. Nietzsche conceived it as the continuous exercise of distance and contemplation that favours a widening of the soul. He considered it to be the exercise of nobility, of the excellence of what is human. In a letter to his friend Köselitz, he lists instances of that excellence:

Excellent is to walk slowly, and also to gaze slowly. Rarely do we marvel at something. There are not so many valuable things; and these things come for themselves and want us. Excellent is to avoid small honours and distrust those who are quick to praise. Excellent is to doubt the possibility of sharing one’s heart; loneliness, not chosen, but as if it had been given to us; the conviction that we only have duties towards our fellows, and that regarding others we act guided by esteem…

Born out of the spirit of Nietzsche’s philosophy, Marta Wengorovius’ current project attempts to answer the philosopher’s challenge to ennoble the human, the challenge of the great health, of excellence, of freedom. Out of the conviction that, for human excellence, the earth is still free, even today.

Maria João Mayer Branco
Lisbon, May 2012

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PT

Para grandes almas, a terra ainda está disponível, mesmo actualmente. Ainda há muitos lugares vagos para os que se isolam, a sós ou a dois, e em volta dos quais paira o aroma dos mares calmos. Para grandes almas, ainda é possível uma vida livre.
— Friedrich Nietzsche
, Assim falava Zaratustra

É próprio da filosofia pensar-se a si mesma, interrogar-se acerca de si própria. A vida da filosofia, a sua vitalidade, mostra-se num movimento potencialmente infinito de interrogação e espanto a seu próprio respeito e num anseio pela duração desse movimento. Para Nietzsche, filósofo que inspirou Marta Wengorovius e o projecto A grande saúde, o pensamento é esse movimento de velocidade e duração indetermináveis que requer leveza e lentidão. Lamentando a sua época que é, em parte, ainda a nossa, Nietzsche escreveu contra a pressa típica do homem moderno, vendo nela o sintoma de uma doença, a incapacidade de esperar. A celeridade e a urgência de respostas impedem a compreensão do pensamento como um repouso activo e como o exercício de uma espera. A filosofia, pelo contrário, é um repouso que não é descanso, é movimento e preparação para receber os pensamentos os quais, escreveu Nietzsche, “chegam quando querem e não quando eu quero”.

A antiga vita contemplativa, que Nietzsche definiu como um “passear com ideias e com amigos”, consistia neste tipo de relação com o pensamento. E foi sobre isso que Marta Wengorovius se pôs, também ela, a pensar. Há já muito que o seu trabalho é atravessado por exercícios de espera e recolhimento, corporal e espiritual, que se articulam com uma reflexão sobre a acção e a actividade. Nos desenhos da presente exposição, esse exercício aparece intensificado pela consideração do conceito nietzschiano de “grande saúde” e que o filósofo definiu como “algo que não apenas se possui, mas se adquire e tem de se adquirir incessantemente, porque também se arrisca, tem de se arriscar”. Tal como o pensamento, a grande saúde nunca acaba. Ela solicita uma disponibilidade que tem a forma de um compromisso a que Nietzsche chamou a tarefa ou o destino do filósofo. E tal como o pensamento, a grande saúde implica o risco inerente a todo o sair de si próprio, do que se conhece, da segurança do que se sabe, e que é o risco de se perder. As “instruções de uso” de cada desenho são, neste contexto, indicações com vista a exercitar uma desaprendizagem com vista alargar a nossa disponibilidade em relação ao que nos rodeia e suscitar, de algum modo, qualquer coisa da ordem da “grande saúde” do corpo e do espírito. Sentar, comer, dançar, parar, nadar surgem, ali, como possibilidades de intensificação da atenção, da imaginação e da concentração, e experiências que propõem uma descoberta de si através de um distanciamento, de um desvio.

Marta Wengorovius dirige-se, assim, a um “tu”, que está pressuposto (esteve-o sempre) em cada um dos seus trabalhos. Nos desenhos, o imperativo das “instruções” dirige-se a quem quer que os venha ver, mas os desenhos evocam ainda um diálogo contínuo com interlocutores determinados. Em particular, outros artistas são explicitamente nomeados, mas também parentes e antepassados da artista que alargam o tempo do diálogo a todos os que já morreram. Chamando pelo passado, o presente chama, porém, também, pelo futuro nos trabalhos desta artista. Nas performances que realiza, Marta Wengorovius convoca habitualmente os participantes um a um, promovendo o encontro de vários “tu” numa acção comum em que uma proto-comunidade é indício de futuro. Também no projecto que agora leva a cabo, a exposição dos desenhos no espaço do Museu da Electricidade será complementada por uma acção comum na Serra da Arrábida, onde os participantes estão convocados para o que a artista designou como o Caminho de Nietzsche. Inspirando-se na ideia de caminhar com ideias e amigos, a artista propõe o suscitar da disposição vagarosa, do silêncio e da partilha que, para Nietzsche, eram condições de possibilidade do pensar. Estabelecido um percurso na serra, um grupo de pessoas será convidado a percorrê-lo e a exercitar, em movimento, a espera e a demora. A leitura e a escuta de excertos de textos do filósofo quebrará pontualmente o silêncio meditativo, transformando também a paisagem interior dos viandantes, tirando-os do seu isolamento e devolvendo-os, depois, novamente a si próprios e aos pensamentos que porventura queiram chegar. O recolhimento e a partilha serão ainda exercitados durante a breve estadia no Convento da Arrábida que precederá a caminhada na serra. O espaço do convento converter-se-á, assim, naquilo que Nietzsche descreveu como uma “construção e localização que exprimem o carácter sublime da reflexão e do afastamento” e onde é possível “passear dentro de nós”. No cimo da serra e de frente para a imensidão do mar, será proposta a experiência de um “lugar silencioso e amplo, muito alargado para a meditação, onde não chegue o barulho dos carros ou dos pregoeiros e onde um decoro refinado recusasse, até aos padres, a oração em voz alta”.

Sendo um nome para a filosofia, a “grande saúde” é também um nome para a liberdade. Nietzsche concebeu-a como uma contínua actividade de distanciamento e contemplação, considerando-a um exercício da nobreza ou excelência do humano. Numa carta ao seu amigo Köselitz, dá exemplos da manifestação dessa excelência: “Excelente é o andar vagaroso e também o olhar vagaroso. Dificilmente nos maravilhamos. Não há assim tantas coisas com valor; e estas vêm por si mesmas e querem-nos. Excelente é afastarmo-nos das pequenas honrarias e desconfiarmos daquele que louva com facilidade. Excelente é a dúvida em relação à possibilidade de partilhar o coração; a solidão, não escolhida, mas solidão como se nos fosse dada; a convicção de que se tem deveres apenas para o seu semelhante e que face aos outros nos comportamos movidos pela estima…” Nascido do espírito da filosofia de Nietzsche, o presente projecto de Marta Wengorovius procura responder ao desafio de nobilitação do humano lançado pelo filósofo. Na convicção de que, para essa nobilitação ou grandeza, “a terra ainda está disponível, mesmo actualmente”.

Maria João Mayer Branco
Lisboa, Maio 2012

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EN

The earth is still free for great souls, even today. There are still many empty places for the lonesome and the twosome, surrounded by the fragrance of silent seas. A free life is still possible for great souls.
— Friedrich Nietzsche, Thus Spoke Zarathustra

Philosophy tends to think about itself, to wonder about itself. Philosophy’s life, its vitality, is shown in its potentially endless movement of questioning itself and wondering about itself and in its longing for the continuance of that same movement.

For Nietzsche, the philosopher who inspired Marta Wengorovius and her project The Great Health, thought is a movement of indeterminable speed and duration, which demands suppleness and slowness. Regretting his time  in which, in part, we still live, Nietzsche wrote against modernity’s typical haste, describing it as the symptom of a sickness, the inability to wait. The disease is manifest in the rush for urgent answers that keeps us from understanding thought as an active repose, the practice of waiting. Understood as a form of health, philosophy, on the contrary, implies a repose that is not a rest but a movement and a preparation for receiving thoughts which, in Nietzsche’s words, come when they want, not when I want.

The ancient vita contemplativa, described by Nietzsche as taking a walk with ideas and friends, was based on precisely this kind of relationship with thought. And that, too, became the subject of Marta Wengorovius’ thoughts. Her work has long been punctuated by exercises of wait and physical and spiritual seclusion, combined with reflections on action and activity. In the drawings featured in the present exhibition, that approach is intensified by taking into consideration the Nietzschean concept of great health, which indicates the continuous movement of approaching and distancing form oneself whereby passivity and activity are never definitely established. The great health, so Nietzsche wrote, is something that one doesn’t only possesses, but also acquires continually and must acquire because one gives it up again and again, and must give it up. Just like thought, the great health knows no end. It demands commitment, something Nietzsche described as the philosopher’s task or fate. And, again just like thought, the great health implies the risk underlying every relinquishing of oneself, of what one knows, of the safety of what is known, that is to say, the risk of becoming lost. In this context, the ‘instructions of use’ in each of Wengorovius’ drawings are thus instructions towards the practice of unlearning. What is at stake is a withdrawal that widens our receptivity to what is around us and somehow brings about something like the great health in body and mind. Sitting, eating, dancing, lingering or swimming appear as means to intensify attention, imagination and concentration, experiences that allow one’s self-discovery via a distancing, a deviation.

In this way, Marta Wengorovius adresses a ‘you’ that is (it always has been) implied in each one of her works. The instructions accompanying the drawings are generically directed to their viewers, but the drawings also convey a continuous dialogue with determined interlocutors. For instance, other artists are explicitly named, but there are also relatives and ancestors of the artist, thus potentially bringing all the dead into the dialogue. While invoking the past, however, the present also invokes the future in this artist’s works. In her performances, Marta Wengorovius usually calls the participants one by one, thus inciting a meeting of several ‘you’ in a collective action, where these proto-communities are a sign of future. In the current project, the exhibition of drawings at the Electricity Museum will also be complemented with a collective action at the Arrábida Ridge. There, the participants will take part in what the artist called Nietzsche’s Path. Drawing inspiration from the concept of taking a walk with ideas and friends, the artist aims at generating the leisurely mood, the silence and the sharing of experiences, which were, in Nietzsche’s mind, the basic conditions for thought. A group of persons is invited to follow a predetermined itinerary on the ridge, putting wait and lingering into practice while in motion. Readings of extracts from the philosopher’s writings will occasionally break the meditative silence, altering the wanderers’ inner space, taking them out of their isolation and then returning them to themselves and to whatever thoughts may want to come. Withdrawal and sharing will be further exercised during a brief stay at the Arrábida Convent, which will precede the walk on the ridge. That building will then become one of what Nietzsche has described as buildings and sites that give expression to the sublimity of thought and of being apart, in which it is possible to take walks in us. On top of the ridge and facing the immense sea, participants will share the experience of a quiet and wide, expansive spaces for reflection where no shouts or noise from carriage can penetrate and where refined manners would prohibit even priests from praying aloud.

Besides being a name for philosophy, the great health is also a name for freedom. Nietzsche conceived it as the continuous exercise of distance and contemplation that favours a widening of the soul. He considered it to be the exercise of nobility, of the excellence of what is human. In a letter to his friend Köselitz, he lists instances of that excellence:

Excellent is to walk slowly, and also to gaze slowly. Rarely do we marvel at something. There are not so many valuable things; and these things come for themselves and want us. Excellent is to avoid small honours and distrust those who are quick to praise. Excellent is to doubt the possibility of sharing one’s heart; loneliness, not chosen, but as if it had been given to us; the conviction that we only have duties towards our fellows, and that regarding others we act guided by esteem…

Born out of the spirit of Nietzsche’s philosophy, Marta Wengorovius’ current project attempts to answer the philosopher’s challenge to ennoble the human, the challenge of the great health, of excellence, of freedom. Out of the conviction that, for human excellence, the earth is still free, even today.

Maria João Mayer Branco
Lisbon, May 2012