Interview with Marta Wengorovius on the occasion of her exhibition Mise à nu par l’action

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Sem Título (Aprés l’Usage des Objects d’Errance), 2008

Paulo Pires do Vale: Começo pelo fim: o que gostarias de provocar em quem visita a tua exposição em Paris?

Marta Wengorovius: Que há um espaço e um tempo para valorizar a intuição e que nessa intuição, nessa forma intuitiva de estar, os olhos, o ver têm um papel muito importante. Permitem-nos uma suspensão: a de se poder olhar o olhar e olhar o tempo e revitalizá-lo.

Nesta exposição, na sua organização no espaço do Centro Cultural Gulbenkian, propões ao visitante, um caminho, um passeio, por técnicas, materiais, dispositivos muito diferentes – fotografia, desenho, filme, objectos, instalação: queres explicitar esse percurso e a sua unidade, a linha que une todas as obras?

Cada vez mais encontro uma coerência nas obras que vai muito para além do seu aspecto físico, o que torna a unidade da obra mais subjectiva. Por outro lado, cada vez mais procuro (ou deixo que encontre) não a coerência formal mas a assertividade e a força, isto é, a ideia vem cosida a uma forma e eu deixo-a acontecer. O que as une é então uma atitude, um modo de estar na vida. Depois fascinam-me os desafios técnicos que as obras me colocam, quando olhas para uma obra e te apercebes que esta só podia ser aquela e aí a obra aconteceu. E essa resposta torna-se então muito gratificante.

A tua pesquisa sobre a relação entre a obra-de-arte e as condições de percepção do mundo, dos fenómenos naturais, do próprio tempo, conduziu-te a uma série intitulada Objectos de Errância. Começaram com um espelhoperfurado (Olho #1) e agora aproximam-se do sol. Do retorno do eu visível à condição de possibilidade da visão, à luz. O que são estes objectos? O que permitem eles?

Estes Objectos de Errância nascem de uma certa purificação, um desejo de limpeza e despojamento. De um desejo não de acrescentar mais objectos ao mundo mas de abrir fendas no mundo, abrir as cortinas do mundo. Não acrescentar quase nada, com pouco ter muito. Estes objectos, ou os seus usos, tornam-se no próprio desenho, na própria pintura. Em vez de riscar um traço no papel, proponho esses mesmos traços em movimentos, em acções. É um desenho sem lápis, uma pintura sem pincel. Nasceram também do desejo não de representar o mundo mas de apresentá-lo, tocá-lo e habitá-lo na sua realidade e transcendência. Quando estamos muito tempo a olhar para uma forma, a forma dilui-se e então vemos uma presença que nos engloba a nós. Os Objectos de Errância são uma experiência visual, mas uma experiência que permite não estarmos nem dentro nem fora do quadro mas na sua própria constituição que é esse movimento errante para que chamo ou convido com estes objectos.

Há na tua obra um cuidado permanente com a consciência do corpo, (que vem também do teu interesse pela dança e pelas disciplinas orientais ancestrais como o Tai-Chi ou o yoga). As instruções de uso dos teus desenhos, a sua dimensão, o agarrar os objectos de errância, a própria deslocação com eles: é aí, ao corpo-consciente-e-próprio, à presença, que nos dirigem?

É a diferença entre a vivência de uma paisagem e o estar à janela. É um fascínio que eu tenho por percursos, caminhos, trilhos e os traços, mesmo nos desenhos, uma certa geometria-desenho constituinte e por vezes invisível que vai desde o movimento mais perceptível do corpo ao movimento quase invisível da fascia. Penso ser essa qualidade de movimento que uso nas instruções dos desenhos e nas pinturas «aprés l’usage des Objets d’Errance ou nestas últimas que constituíram a exposição» Ensaio sobre o sol (ver instruções pag. 134)

Há na exposição obras de experiência solitária, individual, outras em que a experiência pessoal é acompanhada lado a lado com a de outros, e outras ainda em que é em grupo que tudo se passa. É um tema que te preocupa o do uno e do múltiplo, a pessoa e o grupo. Crias instâncias de encontro e unidade. De festa?

Novamente é desenho, possibilidade. Quando fazemos um primeiro risco no papel, às vezes é só um, mas às vezes fazemos outro e mais outro. Como o pastor, que tanto vezes cito, que em relação ao rebanho conta: uma ovelha, duas ovelhas e muitas (o rebanho) porque essa é a sua história, procurar onde está a sua ovelha, ou as duas que lhe permitem a reprodução de mais e o rebanho que ele deve proteger. Por exemplo, em Superfície – a pele perfomática, as Toalhas que implicam uma refeição, dividem-se igualmente em Toalha para um, Toalha para dois e Toalha para muitos, como se pode ler nas instruções das caixas das Toalhas, a ideia é que se desenvolva esta consciência que é a que nos pemite diferentes tipos de comunicação. Assim também quando nos encontramos diante do sol ou da lua nos usos dos Olhos / mise à nu (ver imagens pags. 54/55 e 98/99)

Costumas indicar a referência evangélica à passagem de Cristo na casa de Marta e Maria para explicar o teu nome (Marta Maria Bastos Wengorovius). Parece-te também fazer sentido essa referência para ajudar a compreender esta exposição: a acção e a contemplação? Alguma delas é «a melhor parte»?

A acção e a contemplação são um pouco como a consciência da pele; quando olhamos para a pele pensamos que a pele corresponde a alguma coisa que não se mexe mas, no entanto, o que se passa é que o movimento desta é imperceptível para os olhos mas não para o tacto. Quero dizer assim também a contemplação não é a coisa parada e acção a coisa que mexe.

E agora posso chegar ao início, porquê tudo isto? Porquê todo o trabalho e empenho? Porque és artista?

Ah, não sei mas ainda no outro dia fui buscar o Sol, que estava pronto, e quando o vi percebi que é esta a minha estrada.

Paulo Pires do Vale
15 Setembro 2008

Paulo Pires do Vale: Let’s start at the end: what would you like to provoke in people visiting your exhibition in Paris?

Marta Wengorovius: To realize that there is a space and time to value intuition, and that in that intuition, in that intuitive way of being, the eyes, seeing has a very important role. It allows us to experience a suspension: wherein we can look at the gaze, and look at time and revitalize it.

In this exhibition, by organizing it in the space of the Gulbenkian Cultural Centre, you suggest a path (a stroll), sing very different techniques, materials, and devices – photography, drawing, film, objects, installation: would you like to explain this trajectory and its unity, the line that unites all the pieces?

More and more I find a logic in the works that goes beyond their physical appearance, and the result is hat the unity of the oeuvre becomes more subjective. On the other hand, I increasingly seek (or let myself find) not the formal coherence, but the assertiveness and the strength, that is, the idea that comes attached to a orm, and I let it happen. Thus, what unites them is an attitude, a way of being. I am also fascinated by the technical challenges posed by the works: when you look at a piece and realize that this piece could only be that one, that’s when the piece materialises. And that answer becomes very rewarding.

Your research on the relation between the work of art and the conditions through which the world is perceived, natural phenomena, time itself, led you to a series entitled Objects of Errantry. They start with a punctured mirror (Eye #1), and they are now approaching the sun. From returning the visible self to the condition of the possibility of sight, to the light. What are these objects? What do they allow?

These Objects of Errantry arose from a certain purification, a desire for limpidity and simplicity. From a desire not of adding more objects to the world, but of opening cracks in the world, of drawing back the curtains to the world. To add almost nothing, to make a lot with little. These objects, or their uses, become the drawing itself, the painting itself. Instead of drawing a line on paper, I suggest those very same lines through movements, in actions. They are drawings without pencil, paintings without paintbrush. They also arise, not from the desire of representing the world, but of presenting it, touching it, inhabiting it in its reality and transcendency. When we spend a lot of time looking at a form, the form becomes disperse, and then we see a presence that embraces us. The Objects of Errantry are a visual experience, but they are an experience that allows us to be neither inside nor outside the painting, but in its own creation, which is that errant movement into which I call or invite the visitor with these objects.

In your work there is a permanent attention to the awareness of the body, (which is also related to your interest in dance and ancient oriental disciplines such as Tai-Chi or yoga). The instructions in your drawings, their size, the act of holding the objects of errantry, even walking with them: are they directing us to that, to a body aware of itself and beingitself, to the experience being present?

It is the difference between experiencing a landscape and looking at it from a window. I have this fascination for paths, trails, tracks, and the lines, even in the drawings, a certain constitutive and sometimes invisible geometry-drawing that ranges from the most perceptible movement of the body to the almost invisible movement of the fascia. I think that is the quality of movement I use in the instructions for use in my drawings and paintings «aprés l’usage des Objects d’Errance» or in these recent works that were presented in the exhibition «Essay on the sun» (see instructions p. 134)

In the exhibition there are some pieces that involve a solitary, individual experience, others where our personal experience is accompanied by the experience of others, and still other ones where everything takes place collectively. This is a subject that interests you: the singular and the multiple, the individual and the group. Do you create instances of encounter and unity? The party?

Once again, it is drawing, possibility. When we make that first line on the paper, and sometimes it is only one line, but sometimes we draw another and then another. Like the shepherd, whom I quote so often, who counts his flock in the following manner: one sheep, two sheep, many sheep (the flock) – because that is his history, to find where one of his sheep is, or the two that enable the reproduction of more sheep, and the flock that he must protect. For example, in Surface – the performative skin, the tablecloths that imply a meal are also divided into tablecloth for one, tablecloth for two, and tablecloth for many, as it can be read in the instructions for the tablecloth boxes; the idea is to allow the development of this awareness that permits different types of communication. The same happens when we find ourselves facing the sun or the moon in the uses of the Eyes / mise à nu (see images pages 54-55 and 98-99)

You frequently use the evangelical reference to the passage of Jesus Christ in the house of Martha and Mary to explain your name (Marta Maria Bastos Wengorovius). Do you think this reference is also relevant in helping us understand this exhibition: action and contemplation? Is any one of them «the best part»?

Action and contemplation are a little bit like being aware of our own skin: when we look at the skin we think that it corresponds to something that has no motion, however, what happens is that the skin’s movement is imperceptible to the eye, but not to the touch. With this I want to say that contemplation is not the motionless thing or action the moving thing. One makes the other one possible; one is the path leading to the other and vice versa. There are no parts, but a process.

And now we reach the beginning: why all this? Why all the work and dedication? Why are you an artist?

Ah, I do not know, but just the other day I went to get the Sun, which was ready, and when I saw it I realized that this is my path.

Paulo Pires do Vale
15 Setembro 2008

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PT

Paulo Pires do Vale: Começo pelo fim: o que gostarias de provocar em quem visita a tua exposição em Paris?

Marta Wengorovius: Que há um espaço e um tempo para valorizar a intuição e que nessa intuição, nessa forma intuitiva de estar, os olhos, o ver têm um papel muito importante. Permitem-nos uma suspensão: a de se poder olhar o olhar e olhar o tempo e revitalizá-lo.

Nesta exposição, na sua organização no espaço do Centro Cultural Gulbenkian, propões ao visitante, um caminho, um passeio, por técnicas, materiais, dispositivos muito diferentes – fotografia, desenho, filme, objectos, instalação: queres explicitar esse percurso e a sua unidade, a linha que une todas as obras?

Cada vez mais encontro uma coerência nas obras que vai muito para além do seu aspecto físico, o que torna a unidade da obra mais subjectiva. Por outro lado, cada vez mais procuro (ou deixo que encontre) não a coerência formal mas a assertividade e a força, isto é, a ideia vem cosida a uma forma e eu deixo-a acontecer. O que as une é então uma atitude, um modo de estar na vida. Depois fascinam-me os desafios técnicos que as obras me colocam, quando olhas para uma obra e te apercebes que esta só podia ser aquela e aí a obra aconteceu. E essa resposta torna-se então muito gratificante.

A tua pesquisa sobre a relação entre a obra-de-arte e as condições de percepção do mundo, dos fenómenos naturais, do próprio tempo, conduziu-te a uma série intitulada Objectos de Errância. Começaram com um espelhoperfurado (Olho #1) e agora aproximam-se do sol. Do retorno do eu visível à condição de possibilidade da visão, à luz. O que são estes objectos? O que permitem eles?

Estes Objectos de Errância nascem de uma certa purificação, um desejo de limpeza e despojamento. De um desejo não de acrescentar mais objectos ao mundo mas de abrir fendas no mundo, abrir as cortinas do mundo. Não acrescentar quase nada, com pouco ter muito. Estes objectos, ou os seus usos, tornam-se no próprio desenho, na própria pintura. Em vez de riscar um traço no papel, proponho esses mesmos traços em movimentos, em acções. É um desenho sem lápis, uma pintura sem pincel. Nasceram também do desejo não de representar o mundo mas de apresentá-lo, tocá-lo e habitá-lo na sua realidade e transcendência. Quando estamos muito tempo a olhar para uma forma, a forma dilui-se e então vemos uma presença que nos engloba a nós. Os Objectos de Errância são uma experiência visual, mas uma experiência que permite não estarmos nem dentro nem fora do quadro mas na sua própria constituição que é esse movimento errante para que chamo ou convido com estes objectos.

Há na tua obra um cuidado permanente com a consciência do corpo, (que vem também do teu interesse pela dança e pelas disciplinas orientais ancestrais como o Tai-Chi ou o yoga). As instruções de uso dos teus desenhos, a sua dimensão, o agarrar os objectos de errância, a própria deslocação com eles: é aí, ao corpo-consciente-e-próprio, à presença, que nos dirigem?

É a diferença entre a vivência de uma paisagem e o estar à janela. É um fascínio que eu tenho por percursos, caminhos, trilhos e os traços, mesmo nos desenhos, uma certa geometria-desenho constituinte e por vezes invisível que vai desde o movimento mais perceptível do corpo ao movimento quase invisível da fascia. Penso ser essa qualidade de movimento que uso nas instruções dos desenhos e nas pinturas «aprés l’usage des Objets d’Errance ou nestas últimas que constituíram a exposição» Ensaio sobre o sol (ver instruções pag. 134)

Há na exposição obras de experiência solitária, individual, outras em que a experiência pessoal é acompanhada lado a lado com a de outros, e outras ainda em que é em grupo que tudo se passa. É um tema que te preocupa o do uno e do múltiplo, a pessoa e o grupo. Crias instâncias de encontro e unidade. De festa?

Novamente é desenho, possibilidade. Quando fazemos um primeiro risco no papel, às vezes é só um, mas às vezes fazemos outro e mais outro. Como o pastor, que tanto vezes cito, que em relação ao rebanho conta: uma ovelha, duas ovelhas e muitas (o rebanho) porque essa é a sua história, procurar onde está a sua ovelha, ou as duas que lhe permitem a reprodução de mais e o rebanho que ele deve proteger. Por exemplo, em Superfície – a pele perfomática, as Toalhas que implicam uma refeição, dividem-se igualmente em Toalha para um, Toalha para dois e Toalha para muitos, como se pode ler nas instruções das caixas das Toalhas, a ideia é que se desenvolva esta consciência que é a que nos pemite diferentes tipos de comunicação. Assim também quando nos encontramos diante do sol ou da lua nos usos dos Olhos / mise à nu (ver imagens pags. 54/55 e 98/99)

Costumas indicar a referência evangélica à passagem de Cristo na casa de Marta e Maria para explicar o teu nome (Marta Maria Bastos Wengorovius). Parece-te também fazer sentido essa referência para ajudar a compreender esta exposição: a acção e a contemplação? Alguma delas é «a melhor parte»?

A acção e a contemplação são um pouco como a consciência da pele; quando olhamos para a pele pensamos que a pele corresponde a alguma coisa que não se mexe mas, no entanto, o que se passa é que o movimento desta é imperceptível para os olhos mas não para o tacto. Quero dizer assim também a contemplação não é a coisa parada e acção a coisa que mexe.

E agora posso chegar ao início, porquê tudo isto? Porquê todo o trabalho e empenho? Porque és artista?

Ah, não sei mas ainda no outro dia fui buscar o Sol, que estava pronto, e quando o vi percebi que é esta a minha estrada.

Paulo Pires do Vale
15 Setembro 2008

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EN

Paulo Pires do Vale: Let’s start at the end: what would you like to provoke in people visiting your exhibition in Paris?

Marta Wengorovius: To realize that there is a space and time to value intuition, and that in that intuition, in that intuitive way of being, the eyes, seeing has a very important role. It allows us to experience a suspension: wherein we can look at the gaze, and look at time and revitalize it.

In this exhibition, by organizing it in the space of the Gulbenkian Cultural Centre, you suggest a path (a stroll), sing very different techniques, materials, and devices – photography, drawing, film, objects, installation: would you like to explain this trajectory and its unity, the line that unites all the pieces?

More and more I find a logic in the works that goes beyond their physical appearance, and the result is hat the unity of the oeuvre becomes more subjective. On the other hand, I increasingly seek (or let myself find) not the formal coherence, but the assertiveness and the strength, that is, the idea that comes attached to a orm, and I let it happen. Thus, what unites them is an attitude, a way of being. I am also fascinated by the technical challenges posed by the works: when you look at a piece and realize that this piece could only be that one, that’s when the piece materialises. And that answer becomes very rewarding.

Your research on the relation between the work of art and the conditions through which the world is perceived, natural phenomena, time itself, led you to a series entitled Objects of Errantry. They start with a punctured mirror (Eye #1), and they are now approaching the sun. From returning the visible self to the condition of the possibility of sight, to the light. What are these objects? What do they allow?

These Objects of Errantry arose from a certain purification, a desire for limpidity and simplicity. From a desire not of adding more objects to the world, but of opening cracks in the world, of drawing back the curtains to the world. To add almost nothing, to make a lot with little. These objects, or their uses, become the drawing itself, the painting itself. Instead of drawing a line on paper, I suggest those very same lines through movements, in actions. They are drawings without pencil, paintings without paintbrush. They also arise, not from the desire of representing the world, but of presenting it, touching it, inhabiting it in its reality and transcendency. When we spend a lot of time looking at a form, the form becomes disperse, and then we see a presence that embraces us. The Objects of Errantry are a visual experience, but they are an experience that allows us to be neither inside nor outside the painting, but in its own creation, which is that errant movement into which I call or invite the visitor with these objects.

In your work there is a permanent attention to the awareness of the body, (which is also related to your interest in dance and ancient oriental disciplines such as Tai-Chi or yoga). The instructions in your drawings, their size, the act of holding the objects of errantry, even walking with them: are they directing us to that, to a body aware of itself and beingitself, to the experience being present?

It is the difference between experiencing a landscape and looking at it from a window. I have this fascination for paths, trails, tracks, and the lines, even in the drawings, a certain constitutive and sometimes invisible geometry-drawing that ranges from the most perceptible movement of the body to the almost invisible movement of the fascia. I think that is the quality of movement I use in the instructions for use in my drawings and paintings «aprés l’usage des Objects d’Errance» or in these recent works that were presented in the exhibition «Essay on the sun» (see instructions p. 134)

In the exhibition there are some pieces that involve a solitary, individual experience, others where our personal experience is accompanied by the experience of others, and still other ones where everything takes place collectively. This is a subject that interests you: the singular and the multiple, the individual and the group. Do you create instances of encounter and unity? The party?

Once again, it is drawing, possibility. When we make that first line on the paper, and sometimes it is only one line, but sometimes we draw another and then another. Like the shepherd, whom I quote so often, who counts his flock in the following manner: one sheep, two sheep, many sheep (the flock) – because that is his history, to find where one of his sheep is, or the two that enable the reproduction of more sheep, and the flock that he must protect. For example, in Surface – the performative skin, the tablecloths that imply a meal are also divided into tablecloth for one, tablecloth for two, and tablecloth for many, as it can be read in the instructions for the tablecloth boxes; the idea is to allow the development of this awareness that permits different types of communication. The same happens when we find ourselves facing the sun or the moon in the uses of the Eyes / mise à nu (see images pages 54-55 and 98-99)

You frequently use the evangelical reference to the passage of Jesus Christ in the house of Martha and Mary to explain your name (Marta Maria Bastos Wengorovius). Do you think this reference is also relevant in helping us understand this exhibition: action and contemplation? Is any one of them «the best part»?

Action and contemplation are a little bit like being aware of our own skin: when we look at the skin we think that it corresponds to something that has no motion, however, what happens is that the skin’s movement is imperceptible to the eye, but not to the touch. With this I want to say that contemplation is not the motionless thing or action the moving thing. One makes the other one possible; one is the path leading to the other and vice versa. There are no parts, but a process.

And now we reach the beginning: why all this? Why all the work and dedication? Why are you an artist?

Ah, I do not know, but just the other day I went to get the Sun, which was ready, and when I saw it I realized that this is my path.

Paulo Pires do Vale
15 Setembro 2008